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Do plano de resposta a incidentes à continuidade de negócios digitais

*Por Carlos Tatara

A transformação digital acelerou processos, conectou operações e ampliou a superfície de ataque das organizações. Nos últimos anos, a segurança da informação deixou de ser apenas uma camada de proteção e passou a ocupar um espaço central na governança corporativa. Mas, diante de um cenário em que ataques se tornam mais sofisticados e interrupções podem comprometer cadeias inteiras, apenas “estar seguro” já não é suficiente.

É aqui que entra a ciber-resiliência, a capacidade de uma organização prevenir, resistir, responder e se recuperar de incidentes cibernéticos, preservando a continuidade dos serviços essenciais. Essa capacidade vai além das práticas convencionais de segurança e depende também de infraestruturas de confiança, que sustentam a integridade, a autenticidade e a rastreabilidade dos processos digitais. Trata-se da evolução natural da cibersegurança, ampliando o foco para algo maior: a sobrevivência digital do negócio.

Da cibersegurança à ciber-resiliência: evolução necessária

A cibersegurança sempre teve como missão principal evitar brechas e reduzir riscos. Já a ciber-resiliência assume que, por mais madura que seja a defesa, incidentes podem (e vão) acontecer. Por isso, desloca o foco para capacidade de resposta, continuidade e recuperação, alinhando tecnologia, processos e governança.

Normas e referências como ISO 27001, ISO 27035, ENISA, OCDE e a própria Política Nacional de Cibersegurança (Decreto 11.856/2023) reforçam esse movimento: resiliência não é opcional, é diretriz estratégica.

Essa mudança de perspectiva permite que lideranças de tecnologia e governança assumam uma postura mais realista, proativa e integrada ao negócio.

Por que ciber-resiliência é governança corporativa digital

Para empresas que dependem de operação contínua (financeiras, varejo, telecom, educação, saúde, setor público) a interrupção digital tem impacto direto em:

  • Receita
  • Reputação institucional
  • Cumprimento de obrigações legais
  • Confiança de clientes e parceiros
  • Risco operacional e regulatório 

Ou seja: um incidente cibernético não é só um problema de TI, é um problema de governança.

A ciber-resiliência integra segurança, compliance, continuidade de negócios e gestão de riscos em uma visão única. Ela fortalece decisões estratégicas, acelera respostas e reduz danos quando algo foge do previsto.

Pilares essenciais da ciber-resiliência

Para avançar além da segurança tradicional, organizações precisam estruturar práticas que conectam tecnologia, processos e governança. Entre as mais relevantes:

1. Prevenção estruturada

Inclui autenticação forte, controle de identidades, criptografia, gestão segura de chaves e certificados digitais, políticas de acesso e hardening de ambientes. É a base para mitigar riscos antes que virem incidentes.

2. Detecção eficiente

Monitoramento contínuo e registros imutáveis, idealmente com logs preservados com carimbo do tempo, aceleram auditorias e evitam a perda de evidências. Quanto menor o tempo de detecção, menor o impacto.

3. Resposta coordenada

Planos claros, com equipes definidas, fluxos de comunicação, responsabilidades e evidências verificáveis, como documentos assinados, trilhas de auditoria preservadas e protocolos que assegurem não-repúdio que possam ser utilizadas em eventual processo de perícia.

4. Continuidade e recuperação

Backups confiáveis, redundância, replicação, failover e processos de retomada operacional que permitam que o serviço volte ao ar com integridade transacional.

Do plano ao processo: maturidade crescente

Ter um plano de resposta a incidentes é importante.
Ter um plano que funciona na prática é essencial.
Ter um plano integrado à continuidade de negócios é o que diferencia organizações resilientes.

A maturidade em ciber-resiliência não se resume à tecnologia. Envolve cultura, governança, priorização executiva e revisões constantes, especialmente diante de novas regulamentações, expansão de serviços digitais e mudanças na superfície de ameaça.

O papel das evidências digitais confiáveis

Em qualquer incidente, uma pergunta sempre aparece: quais registros podem ser comprovadamente confiáveis?

Sistemas que utilizam mecanismos como:

  • assinaturas digitais qualificadas,
  • protocolos de não-repúdio,
  • carimbo do tempo qualificado,
  • preservação de logs com integridade garantida, 

criam uma camada de confiança essencial para auditorias, investigações internas, conformidade regulatória e recuperação pós-incidente.

Essas tecnologias transformam dados operacionais em evidências verificáveis, permitindo análises mais rápidas, garantindo a cadeia de confiança digital e tomada de decisões mais seguras para a  restauração ordenada de processos críticos. Evidências confiáveis são a ponte entre o incidente e a decisão.

Ciber-resiliência como vantagem competitiva

Empresas que evoluem para um modelo resiliente:

  • reduzem o impacto financeiro de incidentes,
  • encurtam o tempo de indisponibilidade,
  • ganham confiança regulatória,
  • fortalecem parcerias e ecossistemas,
  • e constroem reputação de solidez digital. 

Em um ambiente onde interrupções podem comprometer resultados e experiências do usuário, resiliência deixa de ser um diferencial e se torna uma exigência corporativa.

A ciber-resiliência representa a próxima fronteira da governança digital. Ela amplia o escopo da segurança da informação para incluir continuidade, evidência, recuperação e confiança.

Mais do que evitar ataques, trata-se de garantir que a organização permaneça íntegra, funcional e confiável mesmo diante de crises digitais. É uma mudança de postura: não só proteger, mas sobreviver, responder e evoluir.

Para empresas que tratam tecnologia como infraestrutura estratégica, o momento de avançar para um modelo ciber-resiliente não é futuro, é agora.

*Carlos Francisco Tatara é CTO da Bry

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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