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O futuro da indústria de tecnologia e o desenho das cadeias globais de valor estão sendo ativamente reconfigurados pela Geopolítica na Era Digital, um tema central na palestra proferida por Silvio Cascione, diretor da Eurasia Group no Brasil. Com mais de 15 anos de experiência em análise política e econômica, Cascione detalhou as complexas interconexões entre poder estatal e domínio tecnológico. Cascione foi o keynote speaker do ABES SUMMIT 2025.

O “G0” e a ascensão da Tecnopolaridade 

O cenário global, segundo Cascione, é caracterizado pelo “G0” — a ausência de um grupo de liderança global efetiva (como G7, G20 ou ONU) capaz de resolver desafios como a crise climática e a evolução digital. As organizações atuais demonstram-se inadequadas, abrindo espaço para a Ásia, com destaque para a China, crescer exponencialmente no palco econômico.

Nesse vácuo de liderança, emerge a “tecnopolaridade”: o domínio do setor privado em tecnologias críticas. O palestrante citou o papel de empresas como a Starlink de Elon Musk na guerra da Ucrânia como um exemplo contundente de como o poder tecnológico privado pode ter impacto geopolítico direto. O conflito entre Estados e corporações pelo controle e regulação dessas tecnologias define a nova ordem. A China, com seu modelo de controle estatal, e os EUA, com um setor privado dominante, representam as abordagens distintas de governança tecnológica. 

A disputa estratégica EUA x China

A rivalidade entre EUA e China permeia a geopolítica digital, apesar da profunda conexão econômica e tecnológica entre as duas potências. A disputa se concentra em áreas estratégicas como chips e minerais críticos, definidos como “choke points” — pontos de estrangulamento estratégico utilizados para vantagem competitiva.

A política americana evoluiu de uma tentativa de restringir o acesso chinês a chips para uma corrida tecnológica acelerada. No entanto, a China detém uma vantagem estratégica na produção de minerais críticos, um fator que impacta decisivamente a indústria global e a transição energética.

Oportunidades e ações para o Brasil

Para o Brasil, Cascione enxerga um cenário de desafios estruturais e ativos estratégicos. A falta de mão de obra qualificada, a baixa atração de talentos estrangeiros e as altas taxas de juros são entraves. Em contrapartida, o país é uma potência energética e agrícola, possui minerais críticos e conta com um mercado interno grande e digitalizado (exemplo: o sucesso do PIX).

Para aproveitar o impulso tecnológico global, Cascione recomendou ações estratégicas para o Brasil:

  • Incentivar a formação de mão de obra qualificada em áreas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
  • Promover políticas de atração de talentos estrangeiros.
  • Fomentar parcerias público-privadas para alavancar investimentos em tecnologia.
  • Diversificar mercados através de acordos comerciais com a União Europeia, Canadá e Sudeste Asiático.
  • Investir em pesquisa e exploração de minerais críticos para fortalecer a posição do país na cadeia global de valor.

A palestra sublinhou que, na Era Digital, a soberania e o desenvolvimento econômico de uma nação dependem intrinsecamente da sua capacidade de navegar e capitalizar nesta nova “guerra fria tecnológica”.

Sobre o ABES SUMMIT

A 15ª edição do ABES SUMMIT, realizada em 08 de outubro no JW Marriott, em São Paulo, teve como tema central “Fronteiras Digitais – Geopolítica, Tecnologia e Sustentabilidade”. O evento promoveu um dia de imersão para CEOs, líderes e representantes do governo, com o objetivo de destacar o poder da tecnologia para acelerar a transformação dos negócios e da economia. Em um cenário de recalibração global onde tecnologia e geopolítica se entrelaçam, o ABES SUMMIT debateu estratégias práticas para enfrentar desafios como o domínio da Inteligência Artificial (IA) e IA Agêntica, a cibersegurança global, regulação e políticas públicas, e a qualificação da força de trabalho. O foco foi no papel estratégico do Brasil, que pode se firmar como protagonista global na transição energética, na preservação da biodiversidade e no avanço digital, devido à sua matriz limpa e ecossistema de inovação. O ABES SUMMIT 2025 contou com transmissão online gratuita e o selo BMV, compensando 100% dos impactos ambientais.

Patrocinadores: ApexBrasil, Finep, Embrapii, Kaspersky, Nic.br, Caesbra Benefícios, Banco do Brasil, Devfy e Digiforte.

Assista aos painéis do ABES SUMMIT 2025: https://youtube.com/playlist?list=PL2X1JJqBpAkMM7gQhOIAmH9pZwpIG4jQ8&si=i4xIh0sAI-kunjvj

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