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*Por Alice Luz

O mercado global de tecnologias voltadas ao setor público vive um momento decisivo. Segundo um relatório recente do Fórum Econômico Mundial, estima-se que soluções digitais para governos poderão gerar até US$9,8 trilhões em valor público global até 2034. Além disso, de acordo com um estudo da DataHorizzon Research, o segmento govtech deve crescer 12,5% ao ano entre 2025 e 2033, saltando de US$15,4 bilhões para US$49,3 bilhões. Esses números impressionantes representam uma virada estrutural na maneira como os Estados se organizam, prestam serviços e se conectam com seus cidadãos.

No Brasil, a agenda de cidades inteligentes ganhou novo impulso com a publicação da Portaria MCid nº 1.012/2025, que estabelece diretrizes para que cada município desenvolva sua própria estratégia de transformação digital urbana. O normativo orienta que essas iniciativas estejam alinhadas a marcos nacionais já existentes, como a Estratégia Brasileira para a Transformação Digital e a Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, e contemplem princípios como proteção de dados, avaliação de riscos, inclusão social e sustentabilidade. Entre as recomendações estão o estímulo à interoperabilidade entre plataformas e, para municípios mais vulneráveis, a adoção de soluções de monitoramento climático.

Além disso, a transformação tecnológica no setor público brasileiro já é um benchmark consolidado. Fomos reconhecidos pelo Banco Mundial como o segundo país do mundo em maturidade de governo digital, de acordo com o GovTech Maturity Index 2022. Ao alcançar a liderança no ocidente, nos posicionamos como referência no uso de tecnologias para promover eficiência administrativa, ampliar a transparência e fortalecer a participação cidadã, reforçando o papel da transformação digital como vetor de desenvolvimento democrático e econômico.

Nesse contexto, a digitalização dos serviços públicos não é um luxo, mas uma ferramenta essencial para reduzir custos administrativos, fortalecer a transparência e criar novas formas de participação popular, como consultas digitais e monitoramento cidadão da qualidade dos serviços. Essa visão já havia sido compartilhada no relatório do Banco Mundial “GovTech: Putting People First”, de 2021, que apontou que essas iniciativas contribuem para governos mais eficientes, aumentam a responsabilização institucional e promovem maior engajamento da população.

O recente relatório Governando com a Inteligência Artificial, elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), destaca o potencial transformador dessa tecnologia para governos, evidenciando ganhos em produtividade, personalização de serviços, integridade institucional e capacidade de resposta. Baseado em 200 casos reais em 11 funções centrais do setor público, o estudo aponta que a IA pode automatizar até 84% das ações governamentais, reduzindo significativamente custos e fraudes, ao mesmo tempo em que impõe desafios como escassez de talentos e riscos éticos.

No contexto brasileiro, o estudo já reconhece avanços concretos em diversas instituições, incluindo Aneel, ANTT, CGU, TCU e o Judiciário, além de iniciativas estratégicas como a Infraestrutura Nacional de Dados liderada pelo MGI. Um exemplo emblemático é o uso da IA pelo Tesouro Nacional para classificação de despesas, reduzindo o trabalho de categorização de 1.000 para apenas 8 horas, com precisão de 97%, demonstrando ganhos simultâneos de eficiência e transparência. Esses casos evidenciam o compromisso do Brasil com a digitalização e inovação do setor público, mostrando que economias emergentes podem aliar tecnologia e governança para superar limitações estruturais e fortalecer a gestão pública.

Estudos de mercado e dados estatísticos provam que o futuro da governança pública não será decidido apenas em gabinetes, mas se desenhará nas nuvens de dados, nas automações de serviços e nas plataformas que ligam munícipes às instituições em tempo real. Um Estado mais ágil, transparente e inclusivo é possível, e o momento de investir nessa virada é agora. Se o mercado brasileiro de software souber aproveitar a convergência entre regulação, tecnologia e demanda social, o mercado de govtech deixará de ser uma promessa para se tornar a espinha dorsal de um país digital, resiliente e, sobretudo, centrado nas pessoas.

*Alice Luz é CEO da 1Doc, especialista em processos digitais para a gestão pública. – E-mail: 1doc@nbpress.com.br.

 

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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