A tecnopolaridade é um tema central dos debates no ABES Summit 2025, evento promovido pela ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software, que tem como tema principal “Fronteiras Digitais: Geopolítica, Tecnologia e Sustentabilidade”. Segundo Silvio Cascione, Diretor de Pesquisa e Chefe da Eurasia Group no Brasil, o país está bem-posicionado no cenário geopolítico: “Temos um mercado grande e profundo para soluções tecnológicas. Ninguém tem a resposta definitiva sobre para aonde vamos, mas a dinâmica dependerá dos próximos passos das tecnologias e da capacidade de regulá-las, além da parceria público-privada — como o Redata, que demonstra o interesse do governo em atrair investimentos. Empresas que souberem aproveitar os acordos comerciais, as parcerias internacionais e a abertura de novos mercados serão mais prósperas, mesmo em um cenário instável.”
No painel dedicado ao Novo Equilíbrio Global, moderado por Jaime Spitzcovisky, jornalista do Canal UM BRASIL da FECOMERCIO e especialista em assuntos internacionais, Maria Mazzarello Veloso — business advisor, conselheira de administração e CEO da Olusac — destacou que, na nova arquitetura de poder, a disputa é por infraestrutura, padrões de segurança, inovação e soberania: “Precisamos entender que hoje quem governa não é mais quem controla territórios. Quem governa, hoje, é quem controla dados, energia e inteligência. A corrida é por semicondutores, minerais críticos e computação gráfica.”
Para Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília, sócio da consultoria Think Policy e consultor na Vector Relações Governamentais, “O bonde passou. O avanço que estamos vivendo tem múltiplas facetas, e ignorar isso é um erro. A polarização entre Estados Unidos e China já exige um debate diplomático profundo: que tipo de aliança o Brasil vai formar? Em qual órbita de influência vamos nos posicionar? Talvez adotemos novamente uma política pendular, tentando extrair benefícios de ambos os lados — se isso ainda for possível. Não sabemos.”
O setor de serviços tecnológicos — especialmente computação e telecomunicações — é hoje o principal responsável por uma possível mudança no padrão de inserção internacional do Brasil, segundo Alberto Pfeifer, Senior Policy Fellow em Geopolítica, Estratégia e Segurança Internacional no Insper Agro Global: “Atualmente, o debate sobre inserção global está muito centrado no comércio de bens, como a agricultura. No entanto, o nosso maior déficit está nos serviços. Nos últimos cinco anos, acumulamos cerca de 200 bilhões de dólares de déficit na balança de serviços, sendo que um quarto disso vem da indústria de tecnologia da informação e telecomunicações. Esse é um setor em que temos déficit anual com os Estados Unidos e com todos os nossos principais parceiros comerciais. É uma dependência que não é apenas tecnológica, mas também financeira. Por isso, esse setor é crucial para o futuro do país.”
Daniel Parente, Coordenador de Transformação Digital na ApexBrasil, reforçou que “o Brasil precisa se posicionar como fornecedor, e não apenas como consumidor de soluções de software e tecnologia. As exportações de software vêm crescendo de forma significativa — especialmente do ano passado para cá, com um avanço impressionante. Ao analisar os relatórios de desempenho, fica evidente que já temos uma oferta bastante versátil e relevante, principalmente para países com proximidade cultural com o Brasil. Ainda há muito espaço para avançar, e esse potencial está diretamente ligado às características estruturantes do setor, como capacitação técnica, inovação, infraestrutura digital e políticas de incentivo”.
Sobre o ABES SUMMIT
A 15ª edição do ABES SUMMIT, realizada em 08 de outubro no JW Marriott, em São Paulo, teve como tema central “Fronteiras Digitais – Geopolítica, Tecnologia e Sustentabilidade”. O evento promoveu um dia de imersão para CEOs, líderes e representantes do governo, com o objetivo de destacar o poder da tecnologia para acelerar a transformação dos negócios e da economia. Em um cenário de recalibração global onde tecnologia e geopolítica se entrelaçam, o ABES SUMMIT debateu estratégias práticas para enfrentar desafios como o domínio da Inteligência Artificial (IA) e IA Agêntica, a cibersegurança global, regulação e políticas públicas, e a qualificação da força de trabalho. O foco foi no papel estratégico do Brasil, que pode se firmar como protagonista global na transição energética, na preservação da biodiversidade e no avanço digital, devido à sua matriz limpa e ecossistema de inovação. O ABES SUMMIT 2025 contou com transmissão online gratuita e o selo BMV, compensando 100% dos impactos ambientais.
Patrocinadores: ApexBrasil, Finep, Embrapii, Kaspersky, Nic.br, Caesbra Benefícios, Banco do Brasil, Devfy e Digiforte.
Assista aos painéis do ABES SUMMIT 2025: https://youtube.com/playlist?list=PL2X1JJqBpAkMM7gQhOIAmH9pZwpIG4jQ8&si=i4xIh0sAI-kunjvj